Parte (01) - A Escravidão da Vontade - Martinho Lutero

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Esta é uma versão condensada do clássico de Martinho Lutero,
“A Escravidão da Vontade.” Publicada inicialmente em 1525

A questão é: Possui o homem “livre-arbítrio”? Pode um ser humano, voluntariamente e sem qualquer ajuda, voltar-se para Cristo, para ser salvo de seus pecados? Erasmo respondia com um “sim!” Lutero com um ressoante “Não!” Lutero estava convencido de que o conceito do “livre-arbítrio” fere no amargo a doutrina bíblica da salvação exclusivamente pela graça divina.
Necessitamos ter a mesma convicção. Precisamos combater o “livre-arbítrio” tão vigorosamente quanto fazia Lutero. Erasmo, o seu opositor, dizia: “Posso conceber o ‘livre-arbítrio’ como um poder da vontade humana, mediante o qual o homem pode aplicar-se àquelas coisas que conduzem à eterna salvação, ou pode afastar-se delas”. A isso devemos replicar com um resoluto “Não! O homem já nasce como escravo do pecado!” O homem não é livre.
Lutero era professor, teólogo e também pastor. Os membros de sua igreja sabiam que ele sentia o que pregava. Ele não era um erudito seco e indiferente. Ele sentia a pressão da eternidade cada vez que pregava. Isso o compelia, algumas vezes, a fazer coisas impopulares e, por vezes, perigosas. Era alguém disposto a defender a verdade de Deus, ainda que isso fosse contra o mundo inteiro.
A princípio, Erasmo parecia ser um dos aliados de Lutero, visto que ambos rejeitavam muitos dos erros e falhas da igreja de Roma. Todavia, Lutero desafiava cada vez com maior intensidade o ensinamento romanista da salvação mediante as obras, instinto que “o justo viverá por fé” (Rm 1:17). Entrementes, Erasmo continuava na igreja de Roma, e, como era um erudito, cedeu à pressão de sua igreja para defender o ensino do “livre-arbítrio”.
Desafiando a solicitação de Lutero para que não fizesse tal coisa, Erasmo publicou sua “Discussão sobre o Livre-Arbítrio”, em 1524, tendo escrito a Henrique VIII nestes termos: “Os dados foram lançados. O livreto sobre o ‘livre-arbítrio’ acaba de ver a luz do dia”. O livro agradou ao Papa e ao Sacro Imperador Romano, e foi elogiado por Henrique VIII.
Este fato levou Lutero a declarar que Erasmo era um adversário da fé evangélica. Deus controlou soberanamente a intensa luta entre esses dois homens, para vantagem de seu reino. O conflito produziu uma grandiosa declaração da doutrina evangélica que tem enriquecido a Igreja de Cristo desde então, a saber, o livro de Lutero, “A Escravidão da Vontade”.

1- PARTE
As Escrituras são como diversos exércitos que se opõem a ideia de que o homem tem um “livre-arbítrio” para escolher e receber a salvação. Porém, basta-me trazer à frente de batalha dois generais Paulo e João, com algumas de suas forças.

Argumento 1: A culpa universal da humanidade prova que o livre-arbítrio é falso.
Em Romanos 1:18, Paulo ensina que todos os homens, sem qualquer exceção, merecem ser castigados por Deus. “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detém a verdade pela injustiça.” Se todos os homens possuem “livre-arbítrio”, ao mesmo tempo que todos, sem qualquer exceção, estão debaixo da ira de Deus, segue-se daí que o “livre-arbítrio” os está conduzindo a uma única direção da “impiedade e da iniquidade”. Portanto, em que o poder do “livre-arbítrio” os está ajudando a fazer o que é certo? Se existe realmente o “livre-arbítrio”, ele não parece ser capaz de ajudar os homens a atingirem a salvação, porquanto os deixa sob a ira de Deus.

Algumas pessoas, no entanto, acusam-me de não seguir bem de perto a Paulo. Eles afirmam que as palavras dele, “contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça” não significam que todos os seres humanos, sem exceção, estão culpados aos olhos de Deus.

Eles argumentam que o texto dá a entender que algumas pessoas não “detêm a verdade pela injustiça”. Entretanto, Paulo estava usando uma construção de frase tipicamente hebraica, que não deixa dúvida de que ele se referia à impiedade de todos os homens.

Além do mais, notemos o que Paulo escreveu imediatamente antes dessas palavras. No verso 16, Paulo declara que o Evangelho é “o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê”. Isso significa que, não fosse o poder de Deus conferido através do Evangelho, ninguém teria forças, em si mesmo, para voltar-se para Deus.

Paulo prossegue, asseverando que isso tem aplicação tanto aos judeus quanto aos gentios. Os judeus conheciam as leis divinas em seus mínimos detalhes, mas isso não os poupou de estarem debaixo da ira de Deus. Os gentios desfrutavam de admiráveis benefícios culturais, mas esses não os aproximaram em nada de Deus. Havia judeus e gentios que muito se esforçavam por acertar a sua situação diante de Deus, mas, apesar de todas as suas vantagens e de seu “livre-arbítrio”, eles fracassaram totalmente. Paulo não hesitou em condenar a todos eles.

Observemos igualmente que, no versículo 17, Paulo diz “a justiça de Deus se revela”. Por conseguinte, Deus mostra a sua retidão aos homens. Deus, porém, não é um tolo. Se os homens não precisassem da ajuda divina, Ele não desperdiçaria o seu tempo prestando-lhes tal ajuda. A conversão de qualquer pessoa acontece quando Deus vem até ela e vence-lhe a ignorância ao revelar-lhe a verdade do Evangelho. Sem isso, ninguém jamais poderia ser salvo. Ninguém, durante toda a história humana, concebeu por si mesmo a realidade da ira de Deus, conforme ela nos é ensinada nas Escrituras.

Ninguém jamais sonhou em estabelecer a paz com Deus por intermédio da vida e da obra de um Salvador singular, o Deus-homem, Jesus Cristo. De fato, o que ocorre é que os judeus rejeitaram a Cristo, apesar de todo o ensino que lhes foi ministrado por seus profetas. Parece que a justiça própria alcançada por alguns judeus ou gentios levou-os a deixarem de buscar a justiça Divina através da fé, para fazerem as coisas à sua própria maneira. Portanto, quanto mais o “livre-arbítrio” se esforça, tanto piores tornam-se as coisas.

Não existe um terceiro grupo de pessoas, que se situe em algum ponto entre os crentes e os incrédulos – um grupo de homens capazes de salvarem-se a si mesmos. Judeus e gentios constituem a totalidade da humanidade, e todos eles estão debaixo da Ira de Deus. Ninguém tem a capacidade de voltar-se para Deus. Deus precisa tomar a iniciativa e revelar-Se a eles. Se fosse possível ao “livre-arbítrio” dos homens descobrir a verdade, certamente algum lugar, tê-lo-ia feito!

Os mais elevados raciocínios dos gentios e o mais intensos esforços dos melhores dentre os judeus (Rm 1:21; 2:23,28,29) não conseguiram aproximá-los nem um pouco sequer da fé em Cristo. Eles eram pecadores condenados juntamente com todo o resto dos homens. Ora, se todos os homens são possuidores de “livre-arbítrio”, e todos os homens são culpados e estão condenados, então esse suposto “livre-arbítrio” é impotente para conduzi-los à fé em Cristo. Por conseguinte, a vontade dos homens, afinal, não é livre.

Argumento 2: O domínio universal do pecado prova que o “livre-arbítrio” é falso.
Precisamos permitir que Paulo explique o seu próprio ensinamento. Diz ele em Romanos 3:9: “Que se conclui? Temos nós (os judeus) qualquer vantagem (sobre os gentios)? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado”.

Não somente são todos os homens, sem qualquer exceção, considerados culpados à vista de Deus, como também são escravos desse mesmo pecado que os torna culpados. Isso inclui os judeus, os quais pensavam que não eram servos do pecado porque possuíam a lei de Deus. Mas, visto que nem judeus nem gentios têm-se mostrado capazes de desvencilharem-se dessa servidão, torna-se evidente que no homem não há poder que o capacite a praticar o bem.

Essa escravidão universal ao pecado inclui até mesmo aqueles que parecem ser melhores e mais retos. Não importa o grau de bondade que um homem possa alcançar; isso não é a mesma coisa que possuir o conhecimento de Deus. O mais admirável que há nos homens é sua razão e sua vontade, todavia, é forçoso reconhecer que essa mais nobre porção dos homens está corrompida. Diz Paulo, em Romanos 3:10-12: “Não há justo, nem sequer um, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer”.

O significado dessas palavras é perfeitamente claro. Deus é conhecido através da razão e da vontade humana. Porém, nenhum ser humano, somente por sua natureza, conhece a Deus. Precisamos concluir, por conseguinte, que a vontade humana está corrompida e que o homem é totalmente incapaz, por si mesmo, de conhecer a Deus ou de agrada-Lo.

Talvez alguma pessoa audaciosa atreva-se a dizer que somos capazes de fazer mais do que de fato fazemos; porém, o que aqui nos interessa é o que somos capazes de fazer, e não o que estamos ou não fazendo. O trecho das Escrituras citado por Paulo, em Romanos 3:10-12, não nos autoriza a tal distinção. Deus condena tanto a incapacidade pecaminosa dos homens quanto os seus atos corruptos.

Se os homens fosse capazes, ainda que o mínimo possível, de movimentarem-se na direção de Deus, não haveria mais qualquer necessidade de Deus salva-los. Deus permitiria que os homens salvassem a si mesmos. Porém, nenhum deles está apto nem ao menos a fazer a tentativa.

No trecho de Romanos 3:19, Paulo declara que toda boca se calará diante de Deus, porque ninguém poderá argumentar contra o julgamento divino, visto que nada existe, em pessoa alguma, digno de ser elogiado pelo Senhor nem ao menos um atributo livre para voltar-se espontaneamente para Ele.

Se alguém disser: “Tenho uma capacidade própria, ainda que pequena, de voltar-se para Deus”, esse alguém deve estar querendo dizer que pensa que nele há alguma coisa a qual Deus possa elogiar e não condenar. Sua boca não está calada, mas tal ideia contradiz as Escrituras.

Deus ordenou que toda boca ficasse calada. Não é apenas certos grupos de pessoas que são culpados diante de Deus. Não apenas os fariseus, dentre o povo Israelita, estão condenados.

Se isso fosse verdade, então os demais judeus teriam tido alguma capacidade própria para guardar a lei e evitar de tornarem-se culpados. Porém, até mesmo os melhores dentre os homens estão condenados por sua impiedade. Estão espiritualmente mortos, da mesma forma que aqueles que de maneira alguma procuram guardar a lei de Deus. Todos os homens são ímpios e culpados, e merecem ser punidos por Deus. Essas coisas são tão evidentes que ninguém pode nem mesmo sussurrar uma palavra contra elas!

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Fonte: http://youtu.be/4gNFqg9Ywvg  -  Canal  "Josemar Bessa"
Transcrição: Necilia Paula
Fonte: trovian.blogspot.com.br