Ainda fico surpreso quando vejo pastores e demais oficiais da Igreja
Presbiteriana do Brasil esboçando a dúvida que não sabem se a Confissão de Fé
de Westminster é cessacionista, ou não! Espanta-me mais ainda quando ouço, ou
leio, alguns declarando que ela não é! Por esse motivo publico aqui, um texto
breve, simples, mas que creio ser suficiente para esclarecer o assunto.
Permitam-me declarar com letras grandes: A CONFISSÃO DE FÉ
DE WESTMINSTER É INCONTESTEMENTE CESSACIONISTA. O especialista em história da
teologia Garnet H. Milne argumentou que “uma análise dos teólogos de
Westminster revela o seu completo compromisso com um cessacionismo de um tipo
bastante abrangente.” [1] Eles afirmaram que “a possibilidade de mais revelações
cessou, ambos com o propósito de visão doutrinária e para orientação ética.” [2]
Assim, “inspiradas mensagens do céu com o propósito de abrir o sentido da
Escritura, para garantia da redenção pessoal, ou para qualquer outra
finalidade, foram consideradas como não sendo mais possíveis.” [3] Após
detalhado estudo histórico sobre o assunto Milne nos oferece a conclusão com
citações de vários tratados e trechos de sermões que expressam o que os
puritanos que participaram da Assembleia de Westminster criam acerca deste
assunto. Nenhum deles poderia ser classificado como continuísta ou
restauracionista. Por causa do propósito limitado do artigo não reproduzirei as
citas, assim, recomendo que adquira um exemplar do livro.
Estruturalmente falando, o contexto histórico em que os teólogos de Westminster
viviam exigia uma resposta a dois grupos. Eles lutavam contra as doutrinas
católicas, de um lado, e os desvios de um forte partido de entusiastas
anabatistas, de outro. Derek Thomas esclarece que duas questões estão por detrás desta afirmação: primeiro, a posição de Roma em
reclamar a autoridade da Igreja em matéria de fé e vida; segundo, a tendência
dos anabatistas de citar novas revelações do Espírito como algo normativo da fé
e comportamento cristãos. A implicação desta afirmação para o fenômeno
carismático moderno dificilmente poderia ser mais relevante. Reivindicações de
revelações diretas e imediatas do Espírito não têm lugar no pensamento dos
teólogos de Westminster.
[4] Os divines de Westminster rejeitaram enfaticamente as supostas experiências
místicas que os romanistas usavam para validar algumas práticas estranhas à
Escritura, bem como respaldo para beatificar ou canonizar alguém. Por outro
lado, a ala dos entusiastas dentre os anabatistas foram primeiramente
rejeitados por João Calvino no livro I de suas Institutas, e agora
confessionalmente um século depois.
Repito que a CFW é cessacionista. E, isto pode ser comprovado com base em três
preposições extraídas de seu primeiro capítulo:
1. A cessação da revelação especial pelos antigos modos –
CFW I.1
2. A declaração da suficiência das Escrituras: “nada se
acrescentará” – CFW I.6
3. O Espírito Santo fala por meio da Escritura Sagrada – CFW
I.10
Por implicação podemos verificar que:
O texto original da CFW declara que a fonte de todo o conhecimento de Deus, das
suas obras e, da sua vontade na história da redenção se registra na Escritura
Sagrada. A CFW I.1 inicia afirmando a insuficiência da revelação geral para o
conhecimento salvador, menciona a revelação progressivamente comunicada e a
preservação da revelação especial pelo seu registro inspirado, culminando na
solene declaração de que este processo revelacional cessou com o fechamento do
cânon das Escrituras.
Embora à luz da natureza, e das obras da criação e da providência, de tal modo,
a manifestar a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, a ponto de deixar todos
os homens indesculpáveis (Rm 2:1, 14-15; 1:19-20, 32; Sl 19:1-3), ainda assim,
[esta luz da revelação geral] não é suficiente para dar aquele conhecimento de
Deus e da sua vontade, que é necessário para a salvação (1 Co 1:21, 2:13-14).
Por isso, o Senhor serviu-se, em diversos tempos e de diversas maneiras,
revelar-se, e declarar aquela sua vontade para a sua Igreja (Hb 1:1), e, depois
para a melhor preservação e propagação da verdade, e para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de
Satanás e do mundo, a fez escrevê-la (Pv 22:19-20;. Lc 1:3-4; Rm 15:04; Mt
4:4,7,10; Is 8:19-20); o que torna a Sagrada Escritura para ser mais necessário
(2 Tm 3:15, 2 Pe 1:19); e, aqueles antigos modos de Deus revelar a sua vontade
ao seu povo, cessaram (Hb 1:1-2).
2 – A declaração da suficiência das Escrituras: “nada se acrescentará” – CFW I.6
O argumento em favor do princípio Sola Scriptura no primeiro capítulo da CFW é
fundamentado de modo duplo. Primeiro, é declarado que cessaram os antigos modos
de Deus revelar, porque a Escritura é o processo final da revelação de modo
completo. Agora a ideia se complementa afirmando que nada deve ser acrescentado
à Escritura Sagrada por causa da sua suficiência. A CFW I.6 declara que: Todo o conselho de Deus, concernente a todas as coisas indispensáveis à sua
glória, à salvação, fé e vida do ser humano, ou está expressamente registrado
na Escritura, ou pode ser lógica e claramente deduzido dela; à qual nada, e em
tempo algum, se acrescentará, seja por novas revelações do Espírito, seja por
tradições humanas. Não obstante, reconhecem ser indispensável à iluminação
interior do Espírito de Deus para o salvífico discernimento de tais coisas como
se encontram reveladas na Palavra; e que há certas circunstâncias concernentes
ao culto divino e ao governo da Igreja, comuns às ações e sociedades humanas,
as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e da prudência cristã,
segundo as regras gerais da Palavra, as quais sempre devem ser observadas.
É necessário observar que os teólogos da Assembleia de Westminster não se
referiam a um acréscimo textual nas Escrituras. Em CFW I.6 eles não se
referiram a uma continuação da escrita de novos livros, porque esta
possibilidade eles negaram em CFW I.1. Agora eles condenavam qualquer ensino
que insinuasse a insuficiência da autoridade da Escritura, ou a tentativa de
oferecer ou promover outra fonte além de autoridade além das Escrituras. A
conclusão segue que é algo reprovado acrescentar lado a lado da Escritura novas
revelações ou tradições humanas.
3 – O Espírito Santo fala por meio da Escritura Sagrada – CFW
I.10
O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser
determinadas e por quem serão examinados todos os decretos de concílios, todas
as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões
particulares, o Juiz Supremo em cuja sentença nos devemos firmar não pode ser
outro senão o Espírito Santo falando na Escritura (Mt 22:29, 31; At 28:25; Gl
1:10).
Os teólogos de Westminster concluíram que cessaram as novas
comunicações da revelação especial como também os seus agentes e os seus modos.
Deus fala somente através da Escritura Sagrada. Não há dúvidas de que a
Confissão de Fé de Westminster adota a posição cessacionista quanto à revelação
especial. Assim, negar que a posição oficial adotada majoritariamente pelos que
escreveram os Padrões de Westminster não é cessacionista seria equivalente que
duvidar do seu Calvinismo e Presbiterianismo, como doutrinas essenciais nela
contido.
FONTES:
[1] Garnet H. Milne, The Westminster Confession of Faith and
the Cessation of Special Revelation – Studies in Christian History and Thought
(Eugene, Wipf & Stock, 2008), p. 145.
[2] Garnet H. Milne, The Westminster Confession of Faith and
the Cessation of Special Revelation – Studies in Christian History and Thought,
p. 145.
[3] Garnet H. Milne, The Westminster Confession of Faith and
the Cessation of Special Revelation – Studies in Christian History and Thought,
p. 123.
[4] Derek Thomas, A visão puritana das Escrituras – uma
análise do capítulo de abertura da Confissão de Fé de Westminster (São Paulo,
Editora Os Puritanos, 1998), p. 20.
[5] Ofereço aqui uma tradução mais literal, comparado ao
texto publicado pela Editora Cultura Cristã. O texto original: Chapter I. Of
the Holy Scripture. 1. Although the light of nature, and the works of creation
and providence, do so far manifest the goodness, wisdom, and power of God, as
to leave men (8) inexcusable;a yet (9) are they not sufficient to give that
knowledge of God, and of his will, which is necessary unto salvation;b
therefore it pleased the Lord, at sundry times, and in divers manners, to
reveal himself, and to declare that his will unto his Church;c and afterwards,
for the better preserving and propagating of the truth, and for the more sure
establishment and comfort of the Church against the corruption of the flesh,
and the malice of Satan and of the world, to commit the same wholly unto
writing;d which maketh the holy Scripture to be most necessary;e those former
ways of God's revealing his will unto his people being now ceased.f [a. Psa
19:1-3; Rom 1:19-20; 1:32 with 2:1; 2:14-15. • b. 1 Cor 1:21; 2:13-14. • c. Heb
1:1. • d. Prov 22:19-21; Isa 8:19-20; Mat 4:4, 7, 10; Luke 1:3-4; Rom 15:4. •
e. 2 Tim 3:15; 2 Pet 1:19. • f. Heb 1:1-2].
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FONTE: Estudantes de Teologia
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